Encontro de Astrofotografia de sócios do CEAAL no Cerrado Brasileiro (Julho/2024)

Olá a todos os amigos e amigas do CEAAL em Maceió, em Alagoas, no Brasil e no Mundo.

Dois sócios do CEAAL, Carlos Vasconcelos e Demisson Lopes, foram a terras de Goiás de onde registraram belíssimas astrofotos de tirar o fôlego.

Vejam abaixo um relato de ambos sobre esse encontro de astrofotografia:

Um fim de semana de astrofotografia em Alto Paraíso de Goiás

              Programação

Em setembro de 2023 tivemos a oportunidade de viajar para a Chapada dos Veadeiros com o objetivo de conhecer a região e provar um pouco do que se fala sobre o céu deste lugar. Naquele período, tivemos alguns imprevistos que fizeram com que essa expedição não fosse tão bem aproveitada no sentido de se fazer astrofotografias (tivemos problemas com o voo, também naquela época estava muito quente, umidade muito baixa e no período de queimadas).

Em fevereiro de 2024 programamos fazer essa viagem novamente, no mês de julho, com mais tempo para caso acontecessem imprevistos. O período escolhido foi de 03 a 08 de julho de 2024 (chegando numa quarta-feira e retornando na segunda), lua nova, a via láctea um pouco mais alta já no início da noite, mas com inúmeras possibilidades.

Preparação

Em relação aos kits que levaríamos, nosso receio seria como gerir energia elétrica no local (ficamos em chalés, mas o local para fotos seria um pouco mais afastado), se usaríamos baterias ou energia da rede, para isso levamos extensões e também pequenos power banks.

Demison Lopes optou por levar as montagens AM3 e AZGTi, as câmeras Nikon D750 astromod em conjunto com a Samyang 14mm f2.8 e a Asi533mc Pro em conjunto com o APO Sharpstar 61EDPH e em outro momento uma lente 50mm, tudo isso com guider, e demais acessórios.

Demison Lopes e um dos seus kits

Eu (Carlos Vasconcelos) optei por levar o Star Adventurer GTi (SAGTi) e o MSM Nomad. Em relação às câmeras levei a Asi2600mc Pro para usar, na maior parte do tempo com o APO Askar FMA230 e uma lente de 50mm, e a Canon SL3 astromod com uma Samyang 14mm f2.8, também é claro, com os acessórios (filtros, guiders, etc).

Carlos Vasconcelos e seu kit principal (SAGTi + Asi2600mc + FMA230)

Os meus equipamentos ficaram em 1 mala pequena e uma mochila fotográfica grande (a mala pesando 15kg e a mochila perto de 15kg também), detalhe que embarquei no avião com as malas sem despachar (mas tinha feito o pagamento de mala extra antecipado caso fosse necessário), na passagem para o saguão do aeroporto foi preciso abrir a mala para mostrar a haste e o contrapeso do SAGTi (o que poderia ser um fator complicador e já estaria preparado para despachar caso necessário).

Lopes levou uma mala grande contendo os tripés e maior parte das coisas pesadas, uma mala pequena e uma mochila grande. Despachou somente a mala grande, pois nas outras estavam os equipamentos de maior valor. Conseguiu passar tranquilamente, tendo em vista que os itens pesados estavam na mala maior.

Chegada no local

Estávamos com nossas esposas e escolhemos lugares que pudéssemos unir conforto e a possibilidade de boas fotos. Na primeira hospedagem ficamos em uns chalés altos afastados uns 2km a nordeste do centro de Alto Paraíso, no meio de uma ravina, chamados de Rustik Chapada dos Veadeiros. O local era bastante acidentado para fotografar, porém muito protegido de poluição luminosa por estar rodeado de montanhas.

Os alvos do Demison nesse período foram a Nebulosa do Pelicano (IC 5070) com parte da Nebulosa Norte América (NGC 7000) compondo o mesmo quadro e a Nebulosa da Águia (M16), enquanto optei por iniciar com a Blue Horsehead Nebula (IC4592) e Nebulosa do Véu (C33 e C34).

Nessa região, usando o medidor de SQM no zênite a leitura acusava bortle 1 e nas regiões mais baixas bortle 3.

Passamos duas noites nessa pousada e seguimos para uma outra chamada TerraVida Chalés, dessa vez em um local bem plano, afastado uns 3km a sudoeste do Centro de Alto Paraíso. Nessa região, não havia tanta proteção e facilmente os alvos saíam de bortle 1 para 3.

Os alvos escolhidos por Demison foram o complexo de nuvens Rho Ophiuchi compondo o quadro com a Blue Horsehead Nebula (IC4592), a  nuvem molecular Corona Australis, a Pequena Nuvem de Magalhães e, por último, a Nebulosa Ômega (M17).

 Já os alvos escolhidos por mim foram a Nebulosa da Águia (M16) em composição com a Nebulosa Ômega (M17), um mosaico passando pela Nebulosa da Crescente (C27) e a região de Ha na região da estrela Sadr, e a região de Rho Ophiuchi em 50mm para somar tempo de exposição com a captura do Lopes no mesmo alvo.

Em alguns momentos tivemos a oportunidade de posicionar os sistemas em outros alvos (Pequena Nuvem de Magalhães, Plêiades, etc), com o objetivo principal de avaliar a qualidade do céu e as infinitas possibilidades. Também fizemos inúmeras imagens da via láctea como um todo e pretendemos publicar em breve todas essas imagens.

Os membros do CEAAL Demison Lopes e Carlos Vasconcelos e suas respectivas esposas.

Uma observação sobre essa imagem é que ela foi capturada em composição, isto é, no primeiro plano temos uma imagem com ISO mais elevado e tempo de exposição mais curto, buscando evidenciar o primeiro plano com nitidez. Já no segundo plano (o céu) foi feito um empilhamento de 6 imagens de 2 minutos cada, totalizando 12min de exposição para o céu.

Utilizamos nessa imagem um tripé fixo e uma Nikon D750 astromod + lente 14mm f/2.8. O tratamento foi realizado utilizando o Adobe Lightroom, o Pix Insight e o Photoshop.

Algumas imagens já processadas

Cygnus Loop e a estrela Aljanah

Astrofoto de Carlos Vasconcelos

Cygnus Loop é uma remanescente de supernova composta por várias nebulosas, sendo as mais famosas as nebulosas do véu do leste (C33) e do oeste (C34).

Câmera: ZWO Asi2600mc Pro

Telescópio: Askar FMA230

Tempo total de exposição: 5h34min

Processamento: Pix Insight

Nebulosa da América do Norte (NGC 7000) ou Cygnus Wall em composição com a Nebulosa do Pelicano (IC 5070)

Astrofoto de Demison Lopes

Nessa composição, Demison utilizou os filtros Askar C1 e C2 para capturar a imagem puramente em SHO (conhecida como a paleta do Hubble), ficou um verdadeiro close nas nebulosas com detalhes incríveis.

Câmera: ZWO Asi533mc Pro

Telescópio: Sharpstar 61EDPH III

Tempo total de exposição: 9h12min

Processamento: Pix Insight

The Blue Horsehead Nebula (IC 4592)

Astrofoto de Carlos Vasconcelos

A cabeça azul do cavalo é uma nebulosa de reflexão que fica na constelação do Escopião próximo do Complexo de Rho Ophiuchi. A estrela Jabbah compõe a imagem como sendo o olho do cavalo.

Câmera: ZWO Asi2600mc Pro

Telescópio: Askar FMA230

Tempo total de exposição: 5h00min

Processamento: Pix Insight e Lightroom

Nebulosa da Águia (M16) em SHO

Astrofoto de Demison Lopes

A Nebulosa da Águia (M16) é muito cortejada pelos astrofotógrafos, principalmente por nessa região estarem os famosos Pilares da Criação (capturados pelo Hubble em 1995). Nessa belíssima imagem, também extraída em SHO é possível ver a quantidade de gás e poeira, além de se observar também, em pequeno detalhe, os pilares da criação.

Câmera: ZWO Asi533mc Pro

Telescópio: Sharpstar 61EDPH III

Tempo total de exposição: 4h31min

Processamento: Pix Insight

Pequena Nuvem de Magalhães (NCG 292)

Astrofoto de Carlos Vasconcelos

A pequena nuvem de Magalhães e seu brilho azulado. Apesar de pouco tempo de captura e uma baixíssima distância focal, a imagem apresenta belíssimos detalhes de grande campo.

Câmera: ZWO Asi2600mc Pro

Telescópio: Lente Canon EF 50mm f/1.2 (em f/4 – travamento forçado)

Tempo total de exposição: 2h48min

Processamento: Pix Insight e Lightroom

Startrail do Polo Sul Celeste

Astrofoto de Demison Lopes

Essa imagem chamada de startrail, é resultado do empilhamento de 1724 fotos de 18s cada, totalizando 8h37min de fotos ininterruptas. Os riscos observados são, na verdade, o movimento estelar aparente, ocasionado pela rotação da terra. Para que se obtenha as cores das trilhas das estrelas é preciso dominar as técnicas de captura para evitar que todas fiquem saturadas e esbranquiçadas.

Câmera: Nikon D750 astromod

Telescópio: Lente Rokinon 14mm f/2.8

Tempo total de exposição: 8h37min

Processamento: StarStax

Complexo Nebular de Rho Ophiuchi

Astrofoto colaborativa de Carlos Vasconcelos e Demison Lopes

Este é o Complexo Nebular de Rho Ophiuchi (IC4604 e outros) feito em 50mm com 11h57min de exposição em colaboração entre os astrofotógrafos Demison Lopes e Carlos Vasconcelos.

Esse projeto colaborativo foi planejado em fevereiro/2024 onde o objetivo era apresentar uma imagem em pequena distância focal, mas com o máximo detalhes, capturando em um único campo o Complexo de Rho Ophiuchi (IC4604) juntamente com a Nebulosa da Cabeça do Cavalo Azul (IC4592).

Detalhes de aquisição de Demison Lopes:

Câmera: ZWO Asi533mc Pro

Telescópio: Lente Nikon AF Nikkor 50mm f/1.8D

Tempo total de exposição: 7h46min.

Detalhes de aquisição de Carlos Vasconcelos:

Câmera: ZWO Asi2600mc Pro

Telescópio: Lente Canon EF 50mm f/1.2 (em f/4 – travamento forçado)

Tempo total de exposição: 4h11min

Processamento: Pix Insight e Lightroom

Desafios e aprendizados

  1. Não querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo (levar o necessário e tentar verificar alvos com o mesmo equipamento, pois durante a madrugada, no frio fica difícil raciocinar)
  2. Importante sempre treinar bem o alvo (posição, conferir várias vezes se a posição está boa e atende o que se espera da imagem);
  3. Manter na sessão da noite alvos com o mesmo kit e modificar o sistema de um dia para o outro;
  4. Fazer os flats a tarde, antes da sessão;
  5. Deixar tudo montado e coberto, evitar retirar a montagem e tripé do local;
  6. Levar pelo menos um binóculos para fazer observações (esquecemos);
  7. Estar preparado para a necessidade de pequenas adaptações nos kits.

Conclusão

Esse tipo de expedição, desde que bem planejada, pode trazer diversos resultados de grande valia para o fomento do conhecimento e para incentivar novos e antigos sócios.

Além de tudo, é muito emocionante e gratificante poder observar com os próprios olhos um céu tão escuro e com tantos detalhes.

Entendemos que o CEAAL pode e deve, talvez em escala menor e em lugares mais próximos, criar este tipo de encontro, seja para observação, seja para astrofotografia.

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